António era um rapaz de 14 anos que frequentava o 9º ano da Escola EB 2+3 de Setúbal.
António
era um dos melhores alunos daquela Escola, mas também um dos mais
introvertidos. Não era muito participativo dos jogos da turma,
nomeadamente dos desportivos.
Já
Bento, de 15 anos, era conhecido em toda a Escola, desde alunos a
professores, passando por funcionários. Bento frequentava a mesma turma
de António - o 9º ano A.
Bento
era o rapaz por quem as raparigas mais se interessavam. Um atleta de
eleição, só ligava ao desporto, qualquer que ele fosse, deixando de lado
todas as outras matérias que implicassem livros, estudo ou pesquisa de
documentos.
O outro “hobby” de Bento era sair à noite com os amigos. Bento não parava.
Não
fosse a tradição familiar de Bento, nunca teria escolhido a área de
economia e sim a de desporto, mas o pai queria que ele seguisse economia
e tomasse conta da pequena empresa de panificação da família.
O
9º ano de António, recém-chegado à Escola, transferido do seu colégio
na cidade de Beja, onde os pais viviam por ali trabalhar, tem sido muito
difícil.
Os
pais de António, João e Maria, eram empregados numa empresa que a crise
fez encerrar portas, estando o pai desempregado e a mãe a trabalhar
numa empresa de telecomunicações.
Desde
o primeiro dia que Bento o tem perturbado. Metia-se com ele e dizia-lhe
que era um “menino que nem jogar sabia… só ligava aos livros e aos
colegas, nada”.
Tudo
isto, a par da situação difícil em casa, começou a incomodar António.
Depois foi o dinheiro. Em dia que não sabe ao certo precisar, mas
certamente no mês de Novembro, começaram as ameaças: “se não tiveres a
massa amanhã tás feito… és mesmo um cromo”. Estes factos foram
presenciados pelos colegas Bernardo e Daniela.
As
ameaças foram subindo de tom. No dia 10 de Fevereiro, não gostando de
um comentário depreciativo de António sobre o seu clube, Bernardo
diz-lhe: “sei onde moras, tens a mania que és o maior mas não és. Gostas
de gozar com os outros mas a mim não gozas… vê lá se tens cuidadinho e
não arranjas mais confusão…”.
António optou sempre por não fazer participação de Bento na escola com receio de piores represálias.
Também
em casa António nada dizia sobre o que se ia passando na escola. A
situação dos pais não era agradável e mais um problema era tudo o que
não precisavam.
Mas
tudo ia mudando: as dores de cabeça e estômago constates, a falta às
aulas, o maior isolamento quer em casa quer na escola, os conflitos com a
irmã.
Corolário
deste crescente desinteresse provocado pela vivência na escola: o
rendimento escolar baixou no 2º período. António começou a ter
negativas, notas essas que nunca havia tido.
Mas
o pior estava para acontecer, para mal de António, no dia 5 de Março.
Bento, ao pé do bar da escola, mais uma vez pediu dinheiro a António
que, dessa vez e farto daquela permanente coacção, lhe disse: “não te
dou mais dinheiro ó burro, vai chatear outro, deixa-me em paz!”.
Bento reagiu, abeirando-se de António e com dois murros, no estômago e na cara, arrumou a questão. Os colegas nada fizeram.
No
mesmo dia, António chegou a casa com o olho negro e com fortes dores de
estômago. Aproveitou e contou tudo ao pai e, por telefone, à mãe. O pai
acompanhou-o nesse mesmo dia ao Hospital de Santa Maria.
Os
pais de António, indignados com toda esta situação, nomeadamente a
falta de segurança e de acompanhamento que o seu filho sentiu,
escreveram à Direcção da Escola.
António e Bento, desde essa altura, têm acompanhamento psicológico.
Yasmin Genova nº31
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